segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

62º Torneio Anual Budokan – Eu não planejava lutar mas...

Eram 6:00 da manhã e estávamos em frente da Hombu Budokan - Jabaquara nos preparando para partir. Todos se empenhavam em transportar de dentro da academia para o ônibus as medalhas, troféus, placares e outros. Neste vai e vem vertiginoso do amanhecer o Gugu e o Marcão perguntaram se eu iria lutar, e eu rapidamente disse: “– Não! Eu só vou somente ajudar na organização”.

Apesar de afirmar de primeira que não iria lutar, eu sabia que estava tudo preparado, meu quimono e apetrechos anti e pós-contusão estavam na mala, então sabendo disto logo me retratei e disse: “- Se o time não estiver completo eu entro”. Pronto estava feito, a partir deste momento não tinha mais volta. Eu sabia que iria lutar.

As 6:50 da manhã saímos da academia para a competição em Pindamonhangaba que teria inicio as 8:30 hs (resumindo estávamos atrasados), mas estávamos todos animados e ansiosos por chegar logo no nosso destino, e isto nós percebíamos a cada minuto na cara e nos gestos de cada um.

Alguns pensavam instintivamente em como lutariam e iniciavam uma longa batalha com o próprio ego, dizendo em voz alta com venceriam seus adversários. Outros ficavam quietos e encolhidos no banco, fechavam os olhos e tentavam esquecer o que aconteceria mais tarde. E outros passavam mal, ficavam tensos e não conseguiam nem se expressar.

Para cada situação existia um individuo que se encaixava perfeitamente, e isto era tão verdadeiro que um dos garotos teve um dor de barriga tão intensa que a empresa responsável pelo transporte foi obrigada a trocar o ônibus. O cheiro e o estrago foram tão grandes que seria impossível voltar no mesmo ônibus no final do dia. Consegue imaginar? Calor intenso + cheiro + estrago? Meu Deus...

No meu caso acorreu algo diferente eu fiquei tranqüilo o tempo todo, não havia ansiedade. Eu sinceramente estava muito calmo e nestas ocasiões eu fico tenso e a adrenalina fica alta até o momento de aplicar ou levar o primeiro golpe, depois tudo começa a fluir.

A equipe era formada por Alexandre (Xandi), Marcos Yamashita, Gugu, Adriano e eu. A ordem de luta seria: Primeira luta o Adriano, segunda luta o Xandi, na terceira o Marcão, a quarta luta faria eu e a quinta luta o Gugu. Nosso adversário seria Jequía - Rio de Janeiro, e era formada por garotos, media de idade aparente de 22 anos.

Após ver a equipe adversária e o seu nervosismo o meu raciocínio foi: Impor nosso ritmo, e evitar a qualquer custo à correria do adversário. Raciocínio corretíssimo na teoria, mas na pratica...

Iniciando os combates a primeira luta o Adriano venceu por ippon com um suntuoso nii-dan-gake, ele foi eficaz devido à capacidade de movimentação. Na segunda luta foi à vez do Xandi que também venceu por ippon, mas desta vez utilizando-se de uma imobilização. Na terceira luta foi à vez do Marcão que perdeu por ippon, mas levando dois wazari.

Na quarta luta era a minha vez e eu me encontrava calmo, meu adversário demonstrava nervosismo e preocupação, suava frio, fazia o kiai (gritava) e pulava de um lado para outro sem parar. Naquele momento eu tinha a estratégia montada. Iria impor um ritmo calmo e cadenciado, evitando a correria com objetivo de não me cansar e evitar uma possível contusão no começo da luta. Burrice! Novamente cometi o mesmo erro da ultima competição.

Logo de inicio dominei a pegada, isto mesmo! Eu dominei a pegada e não entrei um golpe. O rapaz não conseguia entrar um golpe, ele se limitava a tentar fazer catada, situação prevista para o combate.

Passados dois minutos o meu preparo físico começou a declinar e o ritmo do rapaz começou a aumentar isto ocorreu porque eu dei abertura, meus braços cansaram com 3 minutos de luta e acabei levando um yoko a partir de uma catada.

Em desvantagem aumentei o ritmo tentando tirar a diferença, mas era tarde. Meu corpo estava cansado e em um vacilo (falta de preparo físico) cai de bruços, oferecendo uma oportunidade de ouro para um estrangulamento que foi aproveitado pelo meu oponente – conclusão Ippon!

Fiquei muito frustrado, tenho certeza que ganharia caso tivesse me empenhado, entrado mais golpes e o mais obvio - “Não ter adotado uma estratégia covarde”. Esta atitude e o resultado negativo que obtive acabou refletindo na equipe.

Na ultima luta seria a vez do Gugu e aparentemente seria uma luta tranqüila. Em um momento de vacilo o Gugu partiu para cima do adversário sem pensar e acabou levando um lindo seio-nague. Resultado – Ippon! E nossa chance de passar para próxima fase ficou estatelada no chão.

No final de nossas lutas entendíamos que precisaríamos melhorar e torcíamos por uma nova oportunidade. Mas agora tínhamos certeza que para uma nova competição teríamos que fazer algo diferente. Seria estupidez da minha parte, fazer as coisas da mesma forma e querer obter um resultado diferente. Portanto para o próximo desafio eu teria que surpreender. E a competição mais próxima seria o Sul Americano de Veteranos e eu não estava 100% confiante da minha participação...

2 comentários:

  1. Affonso,
    Parabéns pela história... consegui imaginar perfeitamente todos os momentos da história.. agora esperar pela próxima.

    Abraço e parabéns pelo blog.
    Não sou lutador, mas acompanho o esporte.

    Julio Cirello

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