O primeiro item para justificar a minha NÃO ida para competição era “o peso”. Eu não queria lutar no meio-médio (até 81 kgs), devido à categoria sabia que seria necessário fazer mais força e me concentrar muito mais para ficar entre os primeiros colocados. Em minha opinião para esta competição o ideal seria lutar no Leve (até 73 kgs), e eu tinha certeza que isto não aconteceria devido ao tempo disponível até a pesagem. O segundo ponto era ridículo, eu pensei que a Sabrina pudesse reclamar de eu ir viajar no final de semana para lutar, e por ultimo eu achava que não estava preparado fisicamente e tecnicamente para competir bem e não dar nenhum vexame. Com estes pensamentos “otimistas” eu estava descartado a hipótese de lutar.
Lembro-me inclusive de comentar algumas vezes com a Sabrina sobre a vontade de viajar para competir e em todas às vezes ela disse: “- Vai!”. Mas eu acabava ignorando- a. A conclusão tirada por mim depois de algum tempo foi que eu estava com receio de lutar e por isto arrumava varias desculpas para não participar.
Porém faltando aproximadamente um mês para a competição recebi um torpedo do grande amigo Motta: “Vamos para o Sul-Americano!” ou uma frase similar. Não me lembro exatamente da frase, mas deixou-me com uma pulga atrás da orelha, eu não acreditava que ele iria lutar no Sul Americano e, portanto respondi: “- Vou pensar...”.
Comentei sobre a mensagem com a Sabrina, ela disse que era muito legal, eu esquivei-me outra vez, dizendo que iria pensar no assunto. Na semana seguinte conversei com o Motta por telefone e fora outros assuntos ele ficou me instigando a competir no Sul Americano e a todo tempo ele dizia: “- Vamos! Vai ser fantástico...”.
Lembro que nesta semana comentei com o Sensei Hitoshi que estava pensando em competir, mas eu não estava 100% confiante e caso eu estivesse me sentido bem iria competir, ele conhecendo meu lado kamikaze, rapidamente aumentou o ritmo dos treinos, e não me deixou ficar parado muito tempo. Inconscientemente eu começava a me preparar para a competição.
Minha duvida durou até duas semanas da competição. Comecei a procurar passagem e estadia, porém a inscrição só foi efetivada no dia 15 de Setembro com a ajuda do Motta. Nas semanas restantes treinei mais forte e começava a preparar o lado psicológico para competição, comecei a ficar apreensivo e muito tenso. Ótimo sinal fazia algum tempo que não me sentia daquela forma... A pressão e a duvida me deixam muito mais atento e focado.
Fui para Porto Alegre em 17 de Setembro no final da tarde e estava ansioso, pensando na melhor estratégia e em como perder peso. Para variar eu estava dois quilos acima do meio-médio, sendo assim o que me restou foi fechar a boca e correr para perder água até a hora da pesagem. Na sexta feira trabalhei em Porto Alegre, tinha reuniões/conferences que não podiam ser adiados e após o expediente fui acompanhar as finais da competição de Kata, onde o pessoal do Alto da Lapa (JAL) já havia arrebatado boa parte das medalhas, até aqui nenhuma novidade, afinal eles são referencia em Kata. Parabéns Sensei Uchida e alunos pelo ótimo desempenho.

Um dos pontos fortes no judô e na sua comunidade é saber que tem amigos espalhados por todo planeta e no Sul Americano em Porto Alegre não seria diferente, reencontrei amigos da década de 80 quando treinei no Palmeiras, eu naquela época era apenas um moleque, mas que saudades! Estas amizades passaram por décadas e continuam vivas e é ótimo saber que todos se tornaram referencias em suas profissões e construíram famílias maravilhosas, onde o objetivo agora é passar a oportunidade que tivemos de conviver neste meio para nossos queridos herdeiros.
Julio Kawakami, Mauricio Neder e Eu.
Após a competição de Kata e das tarefas administrativas concluídas encontrei com o pessoal do Alto da Lapa (JAL) em um restaurante perto do hotel onde o meu jantar foi uma pífia salada e um copo com água. Terrível! Isto não é humano... No meu caso foi menos doloroso afinal comi uma saladinha, porém o Motta estava de regime há uma semana e na véspera da pesagem não poderia comer nada. Foi uma pena eu estar fora do peso, eu com certeza iria sacanear com ele. Afinal amigo é para estas coisas... Sacanear e depois guardar de lembrança.
Brincadeiras a parte, eu e o Motta quando saímos do restaurante tínhamos um único objetivo: Achar uma balança, nós não tínhamos noção de qual seria o nosso peso naquele momento e se estávamos dentro das nossas respectivas categorias, por isto rodamos por várias farmácias e até em um hospital e por incrível que pareça os lugares não tinham uma balança ou não deixavam a gente entrar por estarem com as portas fechadas. No hospital a surpresa foi maior, não tinha balança nem na ala pediátrica e nem na triagem. Terrível! Abstraindo nossa indignação acabamos tomando uma bela garoa e voltamos para o hotel sem saber se estávamos dentro ou fora do peso. Agora o ponto mais importante seria descansar o suficiente para acordar bem disposto e animado para lutar... Mas sabia que não seria uma noite muito tranqüila, eu estava ansioso...
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